Dr. Christiano Perin – Especialista em doenças respiratórias e distúrbios do sono
Descubra mais sobre os distúrbios do sono e as doenças respiratórias.
O que são
A Apneia Obstrutiva do Sono (AOS) é o tipo mais comum de distúrbio respiratório do sono (DRS) e se caracteriza pelo fechamento das vias aéreas, de forma repetida, comumente associada a ronco, muitas vezes com sensação de “sufocamento” e “engasgos” noturnos, causando queda na oxigenação sanguínea, muitos despertares e o aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca durante o sono (Sommers, 1995).
Prevalência
A prevalência da AOS na população em geral varia de 4% a 32% (Young, 2002; Tufik, 2010; Peppard, 2013; Heinzer, 2015), no entanto, cerca de 93% dos homens e 83% das mulheres com quadros moderados a graves de apneia não são diagnosticados (Young, 1997). A apneia obstrutiva do sono nas mulheres em idade reprodutiva causa pouco sintomas, sendo difícil o seu diagnóstico. As mudanças fisiológicas, anatômicas e hormonais que ocorrem durante o período gestacional, podem predispor o aparecimento das DRS ou ainda, a piora de um quadro pré-existente e não diagnosticado (Facc, 2012; Hedman, 2002).
A prevalência da AOS durante a gestação continua incerto na literatura internacional, e parece relacionado ao tipo populacional, a etnia, ao tipo de gestação, se de baixo ou alto risco e ao período da gestação. (Fung, 2013, Wilson , 2013). A gestação de alto risco é “aquela na qual a vida ou a saúde da mãe e/ou do feto e/ou do recém-nascido têm maiores chances de serem atingidas que as da média da população considerada”, sendo fatores de alto risco; obesidade, hipertensão, diabetes, idade no início da gestação, doenças clínicas de forma geral, além das doenças que acontecem por causa da gravidez; como a hipertensão da gestante e pré-eclampsia, diabetes gestacional e outros. (CALDEYRO-BARCIA, 1973, Manual de Gestação de alto Risco, Ministério da Saúde 2017). Alguns estudos, mostram uma prevalência de 20% a 35% de DRS nas gestantes de alto risco (Antony,2014).
Causa
Trabalhos recentes indicam que o DRS caracterizados pela apneia do sono, a presença de ronco e o esforço respiratório noturno, mesmo na ausência de apneia, estão associados a consequências maternas e fetais incluindo; doença hipertensiva gestacional (DHG) pré-eclampsia, diabetes gestacional (DMG) e bebe prematuro de baixo peso (guilhemineault 2007, pamidi, s, 2014; Xu T 2014).
Diagnóstico
O diagnóstico dos DRS neste período pode ajudar a prevenir e tratar precocemente tais distúrbios, reduzindo os desfechos indesejáveis. Até o momento, não existem diretrizes normatizando e orientando o diagnóstico e o tratamento precoce dos DRS durante a gestação, apesar do seu potencial efeito deletério na gestante e no feto. A Polissonografia noturna é o exame realizado para o diagnostico dos distúrbios do sono, no entanto, o longo tempo de espera pelo exame, considerando-se a reduzida janela para diagnóstico em gestantes, o desconforto gerado pelo teste do sono nessa população, e o desconhecimento de tais associações pela público em geral e no meio médico, dificultam ou impossibilitam sua investigação.
Tratamento
O CPAP, que se caracteriza por ser um gerador de fluxo de ar, que mantém uma pressão contínua nas vias aéreas durante o sono, através de uma máscara nasal, promove a abertura completa na região de colapso aéreo, sendo o tratamento de escolha para a apneia do sono moderada e grave (Kushida, 2006). O CPAP, por sua vez é indicado para o tratamento dos DRS em fases precoces da gestação, sendo bem tolerado neste grupo (Guillemineaultl, 2004), no entanto a adesão ao CPAP durante a gestação nunca foi estudada (Cornelio, 2016). Pesquisas recentes usando a ventilação noturna em gestantes com pré-eclâmpsia ou gestantes com hipertensão crônica, mostraram redução da pressão arterial durante o sono nas pré-eclâmpticas, melhora do controle da pressão arterial durante a gestação em pacientes previamente hipertensas, sem a necessidade de mudança na medicação anti- hepertensiva e melhora na condição clínica do nascimento dos bebes. (Guillemineault 2004, Guillemineault 2007, Poyares 2007).
Os estudos mostram ainda, que nas gestantes com risco aumentado para AOS, o tratamento com CPAP, promove a melhora das condições respiratórias materno- fetais, e que o CPAP com baixas pressões durante o sono, poderia ser um tratamento coadjuvante para as todas as mulheres com hipertensão gestacional, pré-eclampsia e ronco, associados a dificuldades respiratórias durante o sono. (Guillemineault 2004, Guillemineault 2007, 2004, Poyares 2007, Cornelio 2016).