O que é
É uma condição temporária causada pelo desalinhamento entre o ciclo circadiano do indivíduo e os horários externos, observada em viagens que ultrapassam pelo menos dois fusos horários.
A característica fundamental dos transtornos circadianos do sono é o desalinhamento do padrão de sono do indivíduo com o horário desejado ou visto como normal pela sociedade. Como a pessoa não consegue ou não pode dormir quando esperado ou desejado, o sono e os períodos de vigília ocorrem em momentos inadequados e como consequência, há sintomas de insônia e sonolência excessiva, com prejuízos profissionais e sociais.
O aspecto principal é a incapacidade de conciliar o sono naturalmente em horário desejado ou esperado, na ausência de outro transtorno de sono que possa justificar os sintomas. Há um padrão persistente ou recorrente de alteração do ciclo sono-vigília, podendo ser uma disfunção primária de uma região do cérebro que se chama núcleo supraquiasmático (localizado no hipotálamo anterior) ou ser secundário a uma mudança ambiental.

Atraso da fase de sono
A principal característica é um atraso estável de mais de duas a três horas dos horários de adormecer e acordar em relação ao horário convencional ou socialmente aceitável. O período principal de sono ocorre, por exemplo, das 3 às 11h. Tentativas de adormecer mais cedo são infrutíferas e esta incapacidade crônica de estabilizar o sono em horários mais desejáveis é um dado de história fortemente característico.
O sono, uma vez iniciado, é normal. Esse dado também é importante para o diagnóstico diferencial com outros tipos de insônia. Um outro aspecto importante para reconhecer essa condição é que em períodos sem obrigação de se manter um horário imposto, não há nenhuma queixa de sono.
Outros sintomas são: sonolência durante o dia, dificuldade para acordar pela manhã antes do término do período de sono desejado, e prejuízos escolares e socioprofissionais. A dificuldade crônica para dormir em horários mais adequados pode levar ao uso indevido de hipnóticos, álcool, tabaco e medicamentos controlados.
O início da secreção de melatonina está atrasada em relação ao horário ambiental e além dos fatores genéticos (principalmente gene hPer3), vários fatores ambientais podem acentuar o atraso de fase, como excesso de exposição à luz ao entardecer, horários tardios para televisão e computador, redução da exposição à luz da manhã.
Geralmente, o início do quadro ocorre na adolescência. É mais comum entre adolescentes e adultos jovens, com pico em torno dos 20 anos de idade. A prevalência é de 7 a 16% da população geral e 40% dos pacientes apresentam histórico familiar positivo. O diagnóstico é clínico, sendo que o preenchimento de diário de sono é uma ferramenta útil para a avaliação deste quadro.
Avanço da fase de sono
Caracteriza-se por horários habituais e voluntários de dormir e despertar em média três horas antes do esperado. A queixa principal é a vontade irresistível de dormir ao final da tarde ou início da noite e, muitas vezes antes de atividades vespertinas ou noturnas. Como dormem cedo, os pacientes se queixam também de acordar em horários indesejados (entre duas e cinco da manhã). Esta condição é menos frequente que o atraso de fase do sono e devido ao despertar matinal precoce muitos pacientes podem ser erroneamente diagnosticados como deprimidos. O diagnóstico também é clínico, utilizando-se o registro de diário de sono.
Padrão circadiano irregular do ciclo sono-vigília
Caracteriza-se pela ausência de um ritmo circadiano discernível ou por um padrão irregular e caótico do ciclo sono-vigília e do ritmo da temperatura produzindo episódios de durações variáveis de sono e vigília ao longo das 24 horas. Insônia, sonolência excessiva e cochilos são comuns a qualquer hora do dia ou da noite. Fatores predisponentes incluem higiene do sono inadequada, falta de exposição aos agentes externos sincronizadores (luz solar, atividades físicas, atividades sociais). Pode acometer particularmente idosos institucionalizado e pacientes com doenças neuro-degenerativas tipo doença de Alzheimer, demência de múltiplos infartos, crianças com retardo mental.
Padrão de livre curso
Caracteriza-se por ritmos circadianos superiores a 24horas, com “dia interno” de 24.5 a 25 horas. Diários do sono ou actimetria demonstram um padrão de sono/vigília que tipicamente atrasa regularmente a cada dia. Indivíduos cegos são os mais acometidos.
Sintomas
As queixas mais comuns do Jet Lag são: alterações do sono, diminuição do alerta e da função cognitiva, mal-estar, fadiga, sintomas gastrointestinais.
É uma condição que afeta todas as idades, embora idosos possam ter sintomas mais acentuados. Além disso, a intensidade das queixas depende também do número de fusos viajados e da direção da viagem (geralmente para leste é de pior adaptação), da capacidade do indivíduo dormir durante o voo, da intensidade da pista temporal circadiana no local de chegada e diferenças individuais.
Causas
Os transtornos primários englobam transtorno do atraso da fase do sono, avanço da fase de sono, padrão circadiano irregular do ciclo sono-vigília, padrão de livre curso (sono de não-24 horas). Há evidências demonstrando que podem ser causados por mecanismos genéticos geradores dos ciclos intrínsecos de 24 horas e mutações dos genes do ciclo circadiano.
Os transtornos do ciclo sono-vigília que ocorrem após mudança de horário de trabalho (trabalhador em turno) e viagens aéreas (Jet lag), são secundários, auto-limitados no tempo e determinados por fatores ambientais.
Tratamento
Cuidados durante o voo, como evitar bebidas alcoólicas e manter boa hidratação são recomendados. Procure seguir os horários no local de destino (sono, alimentação). Em viagens para o leste é aconselhado acordar cedo, evite luz brilhante pela manhã e force exposição à luz no final da tarde.
Em viagens para o oeste não cochile durante o dia e durma antes que anoiteça. O uso de melatonina é capaz de reduzir os efeitos de Jet lag e o uso de hipnóticos de curta duração pode ser uma alternativa – sempre sob orientação médica.
Há também abordagens preventivas, orientando a uma adaptação prévia a viagem, com atraso ou avanço de fase uma hora por dia no horário de dormir, em conjunto ou não com o uso de melatonina.
O objetivo maior do tratamento é alinhar o oscilador circadiano interno com o período cíclico de 24h do ambiente externo. A adesão rigorosa às boas práticas de higiene do sono e identificação e tratamento de comorbidades médicas e psiquiátricas são essenciais. Cronoterapia, terapia com luz e agentes farmacológicos como a melatonina, tem sido útil para o tratamento destes pacientes.